domingo, 30 de agosto de 2020

Investimento público complementa matriz produtiva

Os desdobramentos são a correta identificação de gargalos pontuais, o investimento com eficiência e permitir, não bloquear, a entrada posterior do setor privado

privado economia


O investimento total da economia é formado pelo investimento privado e pelo investimento público. O gráfico abaixo mostra a evolução dessas duas variáveis ao longo do tempo no Brasil. A linha alaranjada retrata o investimento privado (escala no eixo direito do gráfico), o qual variou entre 15% e 17% do PIB, e a linha azul mostra o investimento público (escala no eixo esquerdo), com valor médio de 2% do PIB.

Vamos agora comparar o investimento público brasileiro com o de outros países. Veja que o Brasil apresenta patamar de investimento sistematicamente inferior aos dos países selecionados. Mesmo se comparado com os Estados Unidos, referência de economia pró-mercado e mais aberta a competição, ficamos para trás. A economia norte-americana alocou uma média de 4% do PIB em investimento público. O Japão se destacava no início da série com 8% de investimento público, mas depois convergiu para o valor dos demais países com um pouco mais de 4%. No tocante às economias em desenvolvimento, grupo que apresenta características mais afeitas ao Brasil, temos que os setores públicos de Chile e Uruguai investiram mais.

Duas breves conclusões. i) Pelo primeiro gráfico, podemos perceber que o nível total de investimento (privado mais o público) brasileiro é baixo se comparado com países de maior crescimento, como Coreia do Sul e Chile, os quais apresentam taxa de investimento por volta de 30% do PIB; ii) nosso investimento público está em níveis baixos se comparado com outros países, o que pode prejudicar a infraestrutura da economia.

Importante assinalar que o investimento público funciona como complemento ao setor privado, ao melhorar a infraestrutura e reduzir custos de transações. Com um baixo nível de investimento público, pode-se levantar a hipótese de que não estamos sequer compensando a depreciação da infraestrutura.

O funcionamento adequado de uma economia envolve investimentos públicos suprindo gargalos pontuais. Tome como exemplo áreas inóspitas à entrada de investimento privado em um primeiro momento, talvez por causa da dificuldade de deslocamento de veículos. Ao abrir estradas, pavimentá-las e permitir maior fluxo de pessoas e automóveis, o investimento público estaria viabilizando posteriores influxos de capitais privados. É que nesse caso teria reduzido o proibitivo custo inicial.

Por fim, e como terceira conclusão, a responsabilidade pelo baixo investimento público não é do teto do gasto, mas pela inadequada alocação dos recursos públicos, os quais foram direcionados para outras fontes, menos produtivas.

Obs1.: o Nobel de economia em 2014, Jean Tirole, tem excelente livro que mostra a complementariedade entre setor público e privado aqui.

Obs2.: agradeço ao economista e professor Jefferson Fraga pela disponibilização dos gráficos.










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